sobre o projeto

Por muitos anos, especialmente entre as décadas de 1990 e 2010, quando falávamos em Sítios de Memória e Consciência (SMC) na América Latina, fazíamos referência direta a lugares de memória (Nora, 1984) e, mais especificamente em locais de trauma (Assman, 2011), muitas vezes musealizados, que foram cenário de crimes contra a humanidade. Eram, em sua maioria, espaços onde a sociedade civil organizada lutou para que o Estado os preservasse e os transformasse em memoriais para homenagear as vítimas de regimes ditatoriais.

No Brasil, com maior ênfase após os trabalhos das Comissões de Verdade que em seus informes finais sinalizaram a importância de criar lugares de memória e museus sobre o tema, sobretudo a partir de 2014, temos ampliado no país a definição de Sítio de Memória e Consciência.

Nesse sentido, os estudos sobre memorialização e musealização de memórias traumáticas têm contribuído significativamente para essa nova percepção, mais ampla e democrática. Especialmente no que diz respeito às práticas museológicas nesses lugares de memória sobre as ditaduras, os alertas da Museologia de memórias traumáticas, têm chamado atenção para a importância de que a atenção para definir que uma instituição seja considerada um SMC esteja em analisar o trabalho com as memórias que a instituição faz, e não determinar pela espacialidade que ela ocupa.

Neste mapa virtual, entendemos como Sítio de memória e consciência, "uma instituição cultural dedicada à ativação de memórias de passados traumáticos para a educação e o respeito aos direitos humanos" (BRITO, 2019, p. 63). O foco é então redirecionado da espacialidade para o trabalho museológico realizado.

Reconhecemos a importância do "spiritu loci" — o espírito do lugar —, mas entendemos que o espaço físico não limita a função social e a relevância de uma instituição para preservar a memória e estimular a consciência. Por isso, mesmo as instituições de memória que não estejam situadas em locais de trauma podem ser consideradas SMC, se elas ativam memórias de passados traumáticos, para promover o fortalecimento dos direitos humanos.

Estamos conscientes de que o tema dos SMC ainda está em construção e fortalecimento em nosso país, por isso, esta plataforma surge como uma ferramenta essencial. Ela visa fortalecer um campo de estudos necessariamente interdisciplinar, que abraça áreas como Antropologia, Arquitetura, Ciências Sociais, Ciências da Informação, História, Direito, Filosofia, Ciência Política, Psicologia, Artes, Biblioteconomia e Museologia, entre outros.

Aqui você encontrará o mapa virtual dos SMC no Brasil, organizado por tipologias – como Museu, Monumento Musealizado, Patrimônio Histórico, Local de trauma disputado para Musealização e Ponto de Memória. Você também pode explorar por temas, como Ditadura, Escravidão, Violência de Gênero, Violência étnico-racial, Crimes e Desastres Ambientais, e Genocídios e Crimes Massivos.

Além do mapa e das fichas de cada lugar, outras abas trazem conteúdos em diversas linguagens para ampliar as discussões desse campo de estudos tão promissor, importante, doloroso, quanto cada vez mais necessário.

Esta plataforma é um dos resultados da pesquisa de pós-doutorado da historiadora e museóloga Ana Paula Brito (DAM/UFPE), desenvolvida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), sob a supervisão do Professor Renato Cymbalista (FAU/USP). A pesquisa foi financiada pela FAPESP, entre outubro de 2024 e abril de 2025, no processo 2023/13497-2.

A plataforma conta com a colaboração da Rede Brasileira de Pesquisadores de Sítios de Memória e Consciência (REBRAPESC) para fortalecer a difusão e ampliar o alcance de novos registros e usos da ferramenta. A REBRAPESC é uma rede nacional de pesquisadores acadêmicos e de profissionais de diferentes instituições de memória que trabalham sobre as relações entre violências, espaços e memórias de passados traumáticos. Busca ser um espaço de diálogo, compartilhamentos e estímulo às parcerias entre seus membros.

O que você encontrará nas próximas abas é um território fértil de memórias ativadas no presente, um espaço construído para um futuro mais democrático. O poeta polonês Jerzy Ficowski, na obra “A leitura das cinzas” (2018) disse: "Vamos chegar a tempo, mesmo que tarde demais para nós mesmos". Concordando com ele, reafirmamos a consciência de que sim, vamos chegar a tempo, ainda que não no “nosso tempo”, mas vamos chegar, com o "esperançar" freiriano que não espera, mas que age.

Convidamos você a passear pelo site. Todas as informações aqui contidas são tuas, vem somar à vontade para ampliar e fortalecer o trabalho dessas importantes instituições de memória. Você pode procurar e contactar os sítios para qualquer tipo de contato ou contribuição e ajudar a ampliar o registro desse mapa com lugares ainda não incluídos. Vem junto.

São Paulo, 1 de agosto de 2025.
Ana Paula Brito (UFPE) e Renato Cymbalista (USP)